terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A CEGONHA É QUE ESTÁ CERTA!

Peço licença aos leitores, e a José Valteno, para publicar uma reflexão belissíma e que se encaixa perfeitamente neste momento de crises políticas e economicas, esquecimento das ideologias que nortearam nossa juventude.

A CEGONHA É QUE ESTÁ CERTA!
O mundo é assim: diverso; muito diverso, porque as pessoas pensam, realizam e são felizes diferentemente. Não é à toa que o grande esforço dos governantes, sempre, em todos os tempos, tem sido padronizar gostos e massificar comportamentos. Todo mundo pensando e querendo igual, essa é a máxima lecionada e a meta insistentemente querida.
Imagine a felicidade de um velho indígena que olha seus jovens netos a nadarem em rio de água límpida que margeia sua farta tribo.
E a felicidade para nós “civilizados”? se resume em Ter. Um estranho Ter.
Ter apenas comida farta para todos, moradia, terra fértil e florestas e rios despoluídos, isso “é coisa de silvícolas”. E eles são indolentes; inocentes;não são sábios como nós; são índios.
Nós que somos sapientes e brancos e civilizados, os escolhidos do Pai-criador, precisamos Ter (para usar e exibir aos que não têm ou nada têm). Nossa felicidade, teria dito a Cegonha antes de nascermos, não é o Ser, ser gente. O que precisamos, até às portas dos céus, é Ter; mesmo que para isso a rosa murche... Mas a danada da Cegonha nada diz quando o índio nasce!
Mais que uma, dez ou mil casas. Depois mansões, para vender, alugar ou simplesmente para Ter. Carros, precisamos ter vários; e há um substantivo coletivo chamado frota. Avião, não serve mais um jatinho; precisamos, agora, ter o melhor (mais caro) destas plagas.
Então, aqui na nossa selva de pedra, fazemos a nossa felicidade freneticamente. Porque a nossa felicidade é fruto do sonho, e os nossos sonhos são feitos, fabricados e impostos para o eterno possuir. Mas a Cegonha, a primeira mestra de todo mundo, sabe o que faz.
Contudo ninguém sofre, ninguém pena. Tudo por cá é harmonia. Todos podem Ter, sempre que quiserem. É uma questão de adaptação.
O mundo é diverso, mas é preciso padronizá-lo; adaptação é a chave. Todo mundo adaptando-se ao hábito dito oficial, e que morra a diversidade, e que morra a pluralidade.
Há muita gente, cada vez mais gente querendo ser índio; como é que pode? Só doido! Temos é que nos adaptar. Se vivemos Império, preciso é adestrar a nossa capacidade de ter as funções de Conselheiro da Corte e, já que é função rara, carcereiro serve. Império é um bom sistema; o povo é que reclama, porque não se adapta (insólitos!).
Se vivemos ditadura, adapte-se para Ter ao menos o cargo de Torturador. Se a moda é democracia da minoria! que tudo tem, tudo pode e tudo faz, não faça outra coisa, adapte-se ligeiro e aprenda as leis dessa minoria: elas são o principal instrumento para se dar bem na vida, para se fazer a felicidade individual. Afinal, a menor parte do todo é o eu. Não sinta remorso. É preciso de qualquer forma Ter. Isso é legal; é civilizado, e a cegonha disse - lembra ?- “ Procure ter”.
Agora que você está preparado e conformado com o seu papel na vida, torne-se, por conseguinte, capataz dos que já têm muito. Mesmo que para isso a rosa murche.
Eu lhe garanto; faça isso. Alguns parentes meus fizeram e se deram bem na vida, pois que continuam com tez erguida e cheios do que dizer.
Eu, é porque sou anormal; sou doido, como dizem tantos. Ademais, a minha cegonha era mesmo muito asquerosa e desde o início me causou empáfia. É a grande causa de eu não a ter escutado. (josé valteno dos santos)
 
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