terça-feira, 27 de janeiro de 2009

POESIAS DE GREGÓRIO DE MATOS





Publico duas poesias do Poeta Gregório de Matos que viveu no Século XVII no Brasil Português. Apesar dos seus escritos serem do século XVII muita coisa ainda perdura e vivenciamos nesse Brasil que convive com antigas práticas colonialistas.
Eis, um pequena biografia de Gregório de Matos Guerra que nasceu na Bahia, em 1623, e morreu no Recife em 1696. Filho de fidalgo português e de mãe brasileira, cursou humanidades com os Jesuítas da Bahia e se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. Passou a advogar em Lisboa, ocupando cargos de magistratura. Por sua sátira, foi obrigado a voltar à Bahia e, aqui, esta foi aguçada, tornando-o motivo de reações e perseguições. Acabou deportado para Angola, retornando um ano antes de morrer em Pernambuco. Gregório de Matos, que em vida nada publicou, produziu uma obra vasta e diversificada, mas, em sua época, muitos de seus poemas circulavam entre o povo, oralmente ou em manuscritos.


EPÍLOGOS


O que falta nesta cidade? ........ verdade.
O que mais por sua desonra? ......Honra.
Falta mais que se lhe ponha? ......Vergonha.

O demo a viver se exponha.
Por mais que a fama a exalta.
Numa cidade onde falta.
Verdade, honra, vergonha.

E que justiça a resguarda? ......bastarda.
É grátis, distribuída? ..............vendida.
Que tem, que a todos assusta? ...injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta?

O açúcar já se acabou? ....baixou.
E o dinheiro se extinguiu? ... subiu.
Logo já convalesceu? ..... morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode? ......não pode.
Pois não tem todo poder? ....não quer.
É que o governo a convence? .... não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence?

(Gregório de Matos Guerra)

SONETO

Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
Quem mais limpo se faz, mais crepa;
Com sua língua, ao nobre, o vil decepa;
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa;
Quem tem dinheiro, pode ser papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa;
Mais isento se mostra o que mais chupa..

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, opa, upa.

(Gregório de Matos Guerra.)
 
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