quinta-feira, 25 de março de 2010

Conversas com o Enfermeiro: I – Sobre a Lógica do Poder





Não, definitivamente não esperem que fale de males físicos, embora, o título desse texto, com pretensões de ensaio, surgira algo nesse campo. Nas conversas com o enfermeiro, temos a pretensão de publicar alguns escritos que tiveram como inspiração os diálogos que mantivemos com algumas pessoas durante encontros informais, sendo que, uma destas, era um enfermeiro por formação e profissão.

Nessas primeiras inscrições refletiremos sobre a lógica do poder, a forma de governar que, embora seja difícil desvincular, não é própria de um individuo, não tem rosto e não tem nome, pois é fruto de um conjunto de regras consuetudinárias, construídas ao longo do tempo e permanentemente adotadas e aprimoradas por aqueles que exercem o poder político, com o sentido único de manutenção do mando pelo máximo de tempo possível.

Niccolò Machiavelli pensador italiano que viveu entre os séculos XV e XVI teorizou, com maestria, sobre a conquista e manutenção do poder. Algumas de suas divagações permanecem vivas e, de forma bem perceptível, são colocadas em prática por vários governantes, sejam eles municipais, estaduais ou de nações. Vejamos algumas das frases atribuídas a Maquiavel: “Zele apenas pelos seus interesses”; “Não honre a ninguém, além de você mesmo”; “Faça o mal, mas finja fazer o bem”; “Cobice e procure obter o que puder”; “Seja miserável”; “Engane o próximo toda vez que puder”; “Mate seus inimigos, e se for preciso mate seus amigos também”; “Use a força ao invés da bondade para tratar com o próximo”; e, a mais famosa frase do pensador “os fins justificam os meios”. Por conseguinte algumas das frases enunciadas, guardando as devidas proporções, são utilizadas até hoje, se não todas, emoldurando maneiras de conquistar e se manter no poder próprias de muitos políticos e gente do meio.

Convém ressaltar que Maquiavel não inventou nada apenas catalisou e escreveu sobre a lógica do poder, e aos estudar varias civilizações e seus contemporâneos, redigiu um tratado sobre como conquistar e se manter no poder chamado de “O Príncipe”. Claro que, as frases são cabíveis até hoje, e em muitos casos houve um aperfeiçoamento da maneira de governar baseado em conchavos, acordos, perseguições de toda ordem, uso da máquina administrativa para corromper, choque de gestão, nepotismo, locupletação com o erário público, confusão proposital entre o público e o privado, compra de votos e de pessoas, barganha política e uma infinidade de táticas construídas com o propósito de perpetuação no poder de um individuo, de uma família ou de uma casta.

Na realidade, Maquiavel observava os políticos e suas maneiras, tornado-se um analista do poder, e, ao fazer a distinção entre o que um homem era e aquilo que deveria ser, ficou com a realidade como a via e eliminou o "deve ser" de seu vocabulário.

É a lógica do poder, e como divagou o enfermeiro, diante das nossas angústias por não ter governantes sérios, com princípios éticos e morais, não existe fulano, beltrano ou cicrano detentor de mais ou menos maldade como governante, pois a lógica do poder é que prevalece, por isso entra governante sai governante e a forma de governar é a mesma baseada sempre nos princípios mais sórdidos da teoria maquiavélica.

Mas, Niccolò Machiavelli também foi o pensador sagaz e observador do seu tempo, deixando divagações de extrema profundidade que servem para analisar governos, como estas duas, citadas para finalizar esse primeiro texto das conversas com o enfermeiro: “ Quem chega ao poder com o apoio dos grandes tem maiores dificuldades do que aquele que chega com o apoio dos vulgos”; e, “O primeiro método para estimar a inteligência do governante é olhar para os homens que tem à sua volta”.
Luladezéemidio - Março de 2010
 
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