terça-feira, 11 de outubro de 2011

A BURCA NOSSA DE CADA DIA

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: Foto pubicada originalmente inhttp://esquerda-republicana.blogspot.com/2010/01/queimar-burca-ou-enfiar-burca-eis.html

A BURCA NOSSA DE CADA DIA

Nesses tempos primaveris no mundo islâmico, recolho-me ao casulo da imaginação para divagar sobre a profunda individualidade do ser humano. Utilizo-me de uma vestimenta preconizada pelo hijab, obrigatória para as mulheres de alguns países e regiões do islã, a burca, para fazer uma alusão a nossa obsessão, em permanecer, sem querer, enxergar a realidade circundante.

Virar uma tenda ambulante filmando o mundo por uma treliça de pano, na práxis deve ser terrível, mas no sentido figurado é o que fazemos todos os dias, seja nas nossas casas, quando jogamos por cima do muro o lixo que produzimos, ou teimamos em “detonar” os vizinhos do bairro com decibéis e mais decibéis de músicas virulentas, ou no trabalho quando ficamos jogando embaixo do tapete os problemas que aparecem ou, simplesmente aceitando os erros cometidos empurrando com a barriga o dia de hoje para ver se conseguimos créditos de falsidade para sobreviver empregado por mais uma semana.

Mas, as vezes, a burca nossa de cada dia se torna mais visível, é quando não conseguimos discernir as maculações perpetradas por amigos, companheiros, parentes, correligionários etc. Basta querer levantar um pouquinho a treliça imaginária para ver os acintes produzidos na urbe em que vivemos: As calçadas e praças das avenidas viraram estacionamentos, de carros, motocicletas principalmente. O entulho visceja, não nas nossas calçadas, que são extensões de nossos mundinhos 06X25m, mas no canteiro central da rua, sem falar que a via mais pública que existe é a calçada, esta, tem mais ondulações de que a topografia do Afeganistão, (ah! Triste dos idosos com suas burcas imaginárias andando nessas vias expressas de insensatez, muitas delas, frise-se, criadas por eles próprios).

Se tivesse que discorrer, sobre essa nossa incapacidade crônica de não querer ver as coisas como elas realmente se apresentam, ou como agente a constrói, destilaria um corolário de ações contraditórias perpetradas pela raça humana no dia a dia de sua ínfima existência. Então que continuemos usando a burca, só assim estaremos escondidos dos outros enquanto agimos contra o planeta, contra tudo que defendemos, contra as nossas ideologias, nossos princípios, nossa ética, nossa moral, nossos anseios de uma sociedade mais justa e igualitária.

Luladezéemidio – outubro de 2010 - (Luiz Carlos dos Santos)
 
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